Antonio Olivio

A verdade

A verdade 

Aquele moço 
Da rua de cima 
Que andava cabisbaixo
Ensimesmado
Falando sozinho
Desconfiado.
Apareceu hoje 
Gritando discurso 
Com os olhos arregalados 
Pulou de dentro dele
A verdade 
Ele dizia com uma voz
Desregulada:
\" eis a verdade\"
A verdade deve ter lhe aparecido em sonho
Toda fascinante 
Com vestido de cetim 
Daqueles dos camelôs
Toda brilhante.
A verdade dos sofistas
Cheia e absoluta
Possuiu aquele homem
Agora ele bebe verdade
De manhã no seu café 
E sai pelo dia afora 
Vomitando a sua descoberta 
Cada passo do caminho
É passo de professor
Pra ensinar pro mundo inteirinho
O alfabeto do doutor. 
A verdade lhe escapa
Pelos olhos,
Pela boca 
Pelos poros
Corre no sangue 
Bate em seu peito 
Um oração desritmado.
Agora vejo assustado
A verdade morando
Na rua de cima
Que engoliu aquele moço 
Coitado do pobre homem
Agora vive morrido
Sendo digerido feliz
Na barriga 
Da certeza

Antonio Olivio


Quem encontrou a verdade apenas encontrou uma mentira convincente..