Sezar Kosta

MILAGRES DO COTIDIANO

A vida ensina com passos miúdos,

sem relógio,

faz a gente tropeçar no próprio cadarço

e, entre o susto e o riso,

descobrimos que cair também é caminho.

 

Amar a si não é vaidade —

é sede antiga,

é o pão ainda quente

que a manhã reparte com a gente

no silêncio da mesa.

 

O perdão machuca como sapato novo,

aperta, incomoda,

até que o tempo,

com mãos de paciência,

amacie o couro e o coração.

 

Empatia é escutar sem costurar respostas,

deixar o silêncio bordar

um entendimento manso

entre duas vozes cansadas.

 

Imperfeições?

São retratos amarelados,

guardados no fundo da gaveta —

às vezes pesam,

mas têm cheiro de quem fomos

e não se joga fora.

 

Desafios chegam feito ventania,

ameaçam dobrar nossos ossos,

mas a gente aprende a ser bambu:

não quebra,

se curva,

encontra o vento por dentro

e inventa um novo rumo.

 

No fim do dia,

a vida se revela em pequenos milagres:

um copo d’água na sede mais funda,

um sorriso torto,

a coragem quieta

de recomeçar amanhã.

 

Só vê quem aprende a agradecer

o pão repartido,

as quedas que viram chão,

os passos lentos

que nunca deixam de seguir.