Hoje, caminho à beira do mar.
O vento sopra calmo, mas firme — como a vida agora. À minha frente, o horizonte dança num encontro silencioso entre céu e água. Não há linhas definidas, não há começos ou finais. Apenas continuidade.
Levo comigo todas as estações que vivi. As chuvas que me afogaram. Os ventos que me arrancaram raízes. Os dias sem luz. Mas também o cheiro da terra molhada depois da dor. A primeira manhã em que voltei a sorrir sem motivo. O calor de um toque que não me cobrou nada, só me abraçou.
A tempestade, que um dia parecia o fim, foi só uma travessia.
Não saí ileso — mas saí inteiro. E mais: saí melhor. Com mais escuta. Mais verdade. Mais amor — não o que espera ser correspondido, mas o que transborda sem medo de secar.
Agora sei que o céu pode desabar, e ainda assim, algo em mim permanecerá de pé. Uma árvore curva, mas viva. Uma árvore que se recusa a morrer. Um barco que aprendeu a dançar com as ondas.
E ali, no exato ponto onde o céu toca o mar, eu entendo: não sou mais o mesmo de antes. Mas sou, finalmente, quem sempre fui.
E isso... isso é liberdade.
23 maio 2025 (10:49)