Sinto saudade das dores de antes —
ao menos me lembravam que eu vivia.
Hoje, só restam ecos de momentos,
lembranças pálidas de agonia.
Sinto tudo... e ao mesmo tempo, nada.
Afogo-me em águas rasas,
procuro sabores no mundo,
encontro apenas temores em brasas.
Sentimentos guardados em frascos,
manipulados em laboratórios frios,
sou cobaia de mim mesmo,
vivendo entre extremos vazios.
Há tanto tempo nessa luta invisível
que minhas conquistas se vestem de silêncio —
ganhei fitas escuras no pulso,
condecorações prescritas em caixas.
Alegria, tristeza, prazer carnal...
tudo virou cena banal.
Um sentimento em cada dose,
uma tragada, uma tosse mortal.
Afogo-me em ácido,
mas não me dissolvo.
Peço perdão se pareço ausente —
tenho perdido o tato com o povo.
Não me sinto bem há meses,
não sinto nada há dias.
Minha mente e meu coração...
numa eterna guerra fria.