Ele chegou sem aviso, sem grandiosidade. Não havia céu em festa, nem borboletas dançando no estômago. Veio como o amanhecer que nem sempre se percebe — só se sente, aos poucos, aquecendo a pele.
Eu não esperava mais. Não procurava. Depois de tantas despedidas, o amor parecia um conto antigo, guardado na estante das coisas que se leem, mas não se vivem de novo.
Mas ele veio. Diferente.
Não tentou me resgatar das minhas sombras, nem me prometer eternidades. Sentou-se ao meu lado no silêncio, escutou sem pressa, entendeu sem exigir.
Ele não fugiu das minhas cicatrizes. Passou os dedos por elas com cuidado, como quem lê uma história gravada na pele e respeita cada capítulo. E, pela primeira vez, eu não precisei me esconder. Não precisei fingir leveza. Eu era, enfim, aceita como sou — com todas as tempestades que já enfrentei.
Não era um amor que gritava. Era um amor que permanecia.
E nesse permanecer, eu descobri algo novo: amar também é paz. Não aquela que nega o passado, mas a que o acolhe. A paz de saber que tudo o que doeu me trouxe até aqui. Que eu não precisava ser salvo — só precisava ser visto.
E ali, no toque simples de um olhar sincero, percebi: o amor voltou. Mas agora, ele me encontrou inteiro, pronto para novas pancadas de chuvas.
21 maio 2025 (11:40)