Foi numa tarde qualquer, dessas em que o céu não sabe se chove ou se abre, que percebi: eu não procurava mais respostas. Não precisava mais entender por que doeu tanto, nem onde tudo começou a desmoronar.
Aceitei que algumas perguntas não têm eco. E está tudo bem.
O silêncio que um dia me assustou — aquele que veio depois do fim, que soava como abandono — agora me acompanha como um velho amigo. Ele não exige nada. Apenas me convida a sentar, a respirar, a existir.
Comecei a ouvir outras coisas dentro dele. Meu próprio riso. Minhas vontades esquecidas. Pequenos desejos, sutis, que floresciam no intervalo entre uma respiração e outra. Era como reencontrar pedaços meus que eu pensei ter perdido para sempre.
Não precisei de promessas, nem de mãos que me segurassem. Bastou reconhecer que, mesmo só, eu estava inteiro. As tempestades me moldaram, sim — mas fui eu quem escolheu o que reconstruir depois.
Hoje, quando olho para trás, não sinto raiva, nem saudade. Sinto gratidão. Não por ter sofrido, mas por ter sobrevivido. Por ter amado, mesmo que tenha doído. Por ter me deixado sentir até o fim — porque só quem mergulha na dor pode emergir com verdade.
E nesse silêncio que me habita, percebo: não sou mais feito do que perdi. Sou feito do que permaneceu.
20 maio 2025 (12:13)