Ah, meu amor,
se eu pudesse te encontrar nas dobras do tempo futuro,
segurar sua mão como quem segura a última folha do outono
e sussurrar ao vento:
você foi feliz comigo, meu bem?
Se eu mereci seus abraços,
seu silêncio confiante,
e se as sombras do meu coração
pudessem ser desfeitas,
tentaria, só por você,
ser mais luz,
ser menos erro.
Se nossos sonhos brotassem,
não sobre a noite, mas no sol nascente,
se nossos planos repousassem,
como dois rios juntando águas,
e o amanhã nos trouxesse risos
que escorrem leves como chuva mansa,
seríamos frutos maduros,
seríamos eternos, talvez.
Mas se o roteiro se escondeu,
se nos perdemos como estrelas cadentes,
eu voltaria — juro —
ao instante presente,
buscando em seus olhos
o mapa,
a bússola,
a razão de tudo.
Ou talvez, quem sabe,
eu voltasse no tempo,
te encontrasse antes,
te amasse mais cedo,
te desse mundos em versos,
abraçasse seus medos em silêncio,
e evitasse as feridas
que ainda ardem.
Mas, amor,
nem tudo foi dor;
houve clarões,
tardes de risos,
houve fé —
e no meio dos tropeços,
nosso amor se fez abrigo,
se fez pão,
se fez canto.
Mesmo que não sejamos
aquilo que sonhamos ser,
mesmo com distâncias,
mesmo com silêncios,
nosso amor, meu amor,
segue,
passo a passo,
no compasso lento dos dias,
crescendo no tempo,
se fazendo abrigo,
se fazendo milagre,
um sonho que renasce
a cada manhã.