Anna Gonçalves

Inércia

A lua desenha sombras no asfalto,  

o ônibus corta a noite como um viajante do tempo

A cidade \"grande\" se dissolve em pasto,  

e o mundo se reduz a um movimento.  

 

Lá fora, os gados são estátuas vivas,  

a plantação um mar estático e mudo.  

As casinhas, com suas luzes pensativas,  

são faróis de um porto seguro.  

 

A física se esconde na paisagem...

As estrelas, frias, calculam sua luz,  

enquanto a lei de Newton, em viagem,  

me lembra que tudo é o mesmo, inclusive eu, no passado.

Onde o corpo se mantém em seu estado de movimento.

Seguindo em seu estado eterno,  

o ônibus, a estrada, o escuro, o gado.  

E eu, entre sonho e chão, num sono interno,  

pergunto se já fui ou se ainda sou passado.  

 

O interior não é só lugar...

É tempo.  

E a noite, com seu luar, apenas guarda  

o instante em que tudo está contido,  

enquanto o ônibus me leva para nada.