não te prometo que a dor vá embora —
ela tem chave da casa,
entra sem bater,
deita no canto onde teu riso se guardava.
mas eu posso ficar.
sem urgência,
sem receita.
posso ser brisa no teu cansaço,
escuta no grito do mundo,
caminho firme quando o chão some.
a dor, às vezes, é como orvalho
que insiste, mesmo após o sol nascer —
e tudo bem.
há beleza no que insiste com leveza.
não ofereço cura,
mas ofereço colo:
esse abrigo que não explica,
mas entende.
não apago cicatrizes,
mas beijo cada uma
como quem as lê com os dedos.
em mim, mora um silêncio que te acolhe,
e um afeto que cresce
como flor que nasce no asfalto rachado.
fica.
ou deixa que eu fique,
enquanto tua dor respira —
e eu, com ela.
até que um dia,
sem que se perceba,
ela se despeça em paz.