Gilberto C. S. Jr.

Homem-bicho

Vi ontem um bicho

Na imundice do pátio

Catando comida entre os detritos

... O bicho, meu Deus, era um homem.”

Bandeira diz estupefato.

 

Este fato,

é realidade cotidiana.

Muitos não se importam com isso.

Até sentem raiva,

quando na presença do homem–bicho.

 

Aos olhos destes,

essa condição é retrato de uma vida mundana.

Vida que profana

o espaço sagrado deles,

os transeuntes sem máculas.

 

Espátulas recobrindo

a indiferença, a falta de compaixão.

 

Para outros, não é condição.

É calamidade

vociferando a sorte dos desnutridos.

Indivíduos desconhecidos,

cuja fome é sua expiação.

Reclusão dos malnascidos.