Melancolia...

A Tempestade Parte 3 - Depois da Chuva.

Os dias que se seguiram foram silenciosos. Não o tipo de silêncio leve, que acalma — mas aquele que pesa, que parece arrastar as horas como se o tempo estivesse cansado de existir. A lembrança da tua voz ainda cortava, mesmo sem som. E eu descobri que há dores que continuam mesmo quando a pessoa já foi embora.

 

Mas como toda tempestade, a tua também passou. Não de uma vez — não foi uma virada de chave, mas um lento clarear. Primeiro, as lágrimas secaram. Depois, voltei a notar os sons do mundo: o canto de um pássaro, o estalo da madeira da cadeira, o farfalhar das folhas. Coisas pequenas, mas vivas.

 

Foi nesse espaço entre a dor e o silêncio que comecei a me reencontrar.

 

Voltei aos lugares que gostava. Um café esquecido no centro, uma livraria que ainda cheirava a páginas novas. Sentei perto de uma janela e vi a chuva cair de novo, mas dessa vez sem temor. Era só água. Não trazia lembranças — lavava.

 

Comecei a escrever. Não sobre você — mas sobre mim. Sobre o que ficou depois. E percebi que, apesar do estrago, havia algo intacto em mim: a capacidade de sentir, de sonhar, de me permitir. A tua tempestade foi forte, sim. Mas ela não levou minha essência — só as partes que eu já não precisava mais.

 

E então, num desses dias comuns, alguém sentou ao meu lado naquele mesmo café. Trazia um livro nas mãos e um sorriso tímido. Não era um sol brilhando. Era uma luz suave, como a de uma manhã depois da chuva.

 

E eu entendi: não preciso correr para amar, nem me entregar ao primeiro raio de sol. Porque agora sei reconhecer o calor verdadeiro — e sei quando o céu está apenas disfarçando a tempestade.

15 maio 2025 (10:50)