Sezar Kosta

ESCUTANDO O RITMO INTERIOR

No pulso tenso do instante,

correntes invisíveis me apertam,

a cidade é relógio frenético,

um grito que não se aquieta.

 

No café que escorre lento,

no sorriso que se esconde,

no vento que sussurra nas folhas secas,

ouço uma maré calma — um convite.

 

Vivi temendo o tempo,

inimigo que rouba o fôlego,

mas ele é rio silencioso,

que chama para a pausa.

 

A ansiedade, névoa densa,

oculta a luz do simples:

ar profundo, noite desperta,

olhar que se demora.

 

Entre a pressa e a calma,

descubro um espaço sagrado,

não para fugir do correr,

mas para mergulhar no efêmero.

 

No ritmo sereno do agora,

o tempo não é tirano,

é jardim onde brotam sentidos,

tapeçaria de instantes tecidos

com o vento, o silêncio, a luz.

 

Aprendo a acolher a demora,

a escutar o ritmo interior —

a urgência se desfaz em miragem,

e o tempo, mestre paciente,

ensina-me a simplesmente ser.

 

Quando o último suspiro chegar,

quero deixar apenas a certeza:

vivi sem correr,

respirando o eterno em cada instante.