No pulso tenso do instante,
correntes invisíveis me apertam,
a cidade é relógio frenético,
um grito que não se aquieta.
No café que escorre lento,
no sorriso que se esconde,
no vento que sussurra nas folhas secas,
ouço uma maré calma — um convite.
Vivi temendo o tempo,
inimigo que rouba o fôlego,
mas ele é rio silencioso,
que chama para a pausa.
A ansiedade, névoa densa,
oculta a luz do simples:
ar profundo, noite desperta,
olhar que se demora.
Entre a pressa e a calma,
descubro um espaço sagrado,
não para fugir do correr,
mas para mergulhar no efêmero.
No ritmo sereno do agora,
o tempo não é tirano,
é jardim onde brotam sentidos,
tapeçaria de instantes tecidos
com o vento, o silêncio, a luz.
Aprendo a acolher a demora,
a escutar o ritmo interior —
a urgência se desfaz em miragem,
e o tempo, mestre paciente,
ensina-me a simplesmente ser.
Quando o último suspiro chegar,
quero deixar apenas a certeza:
vivi sem correr,
respirando o eterno em cada instante.