Isis P. Toldi

A cobra que teme

Na mata vivia uma cobra,
pequena, menor,
frágil.

Tremia com o vento,
temia sua sombra.
Suas presas, afiadas,
assustavam muitos,
mas mais a ela
do que a qualquer outro bicho.

Um dia, encontrou uma zibelina.
Fugiu num sopro, em desatino,
enquanto a pequena marta só a olhava,
quieta, curiosa.

Chegou ofegante à beira da terra,
implorando à minhoca:
\"Tenho medo, dona minhoca!
Vi uma zibelina!\"
disse, aos prantos.

\"Medo de quê?\"
silêncio.
Nada vinha.
Paranoia?
Um medo que mordia por dentro,
sem nome, sem rosto.

A cobra não soube responder.
Só sabia temer.
Ou melhor,
temia demais.

Então, com coragem forjada no desespero,
decidiu procurar o sol.
Subiu as trilhas invisíveis da alma
até a biga flamejante onde ele viajava.

\"Ó sol, grande deus,
por que me deste tanto medo?
De que tenho medo, afinal?\"

O sol, sereno como o tempo,
apenas a olhou.

\"Por favor, meu caro rei,
tire esse medo de mim…
deixe-me ser uma cobra,
mas uma cobra que vive!\"

E então,
no silêncio dourado da resposta que não veio,
a cobra percebeu:
não era o medo que a fazia pequena,
era o quanto ela deixava de rastejar
por medo de ser vista inteira.