Na mata vivia uma cobra,
pequena, menor,
frágil.
Tremia com o vento,
temia sua sombra.
Suas presas, afiadas,
assustavam muitos,
mas mais a ela
do que a qualquer outro bicho.
Um dia, encontrou uma zibelina.
Fugiu num sopro, em desatino,
enquanto a pequena marta só a olhava,
quieta, curiosa.
Chegou ofegante à beira da terra,
implorando à minhoca:
\"Tenho medo, dona minhoca!
Vi uma zibelina!\"
disse, aos prantos.
\"Medo de quê?\"
silêncio.
Nada vinha.
Paranoia?
Um medo que mordia por dentro,
sem nome, sem rosto.
A cobra não soube responder.
Só sabia temer.
Ou melhor,
temia demais.
Então, com coragem forjada no desespero,
decidiu procurar o sol.
Subiu as trilhas invisíveis da alma
até a biga flamejante onde ele viajava.
\"Ó sol, grande deus,
por que me deste tanto medo?
De que tenho medo, afinal?\"
O sol, sereno como o tempo,
apenas a olhou.
\"Por favor, meu caro rei,
tire esse medo de mim…
deixe-me ser uma cobra,
mas uma cobra que vive!\"
E então,
no silêncio dourado da resposta que não veio,
a cobra percebeu:
não era o medo que a fazia pequena,
era o quanto ela deixava de rastejar
por medo de ser vista inteira.