Recebeste em silêncio o calor do meu colo...
nas noites sem sono, eu vesti tua dor...
meus braços foram teu primeiro consolo...
e minha vida, teu mapa de amor.
Dei-te o tempo que o mundo não dava...
fiz do meu peito abrigo e guarida...
com lágrimas minhas tua febre baixava...
cada cuidado, uma parte da vida.
Mas eis que o tempo virou o espelho...
e os dias dourados se foram no chão...
agora cansada, suplico um conselho:
Preciso pagar-te por um coração?
Se não há salário, não há gentileza...
se não tem valor, não sobra afeto...
sou só tua mãe, sem mais nobreza,
na velhice, teu olhar ficou discreto.
Ah, filha querida, onde está tua alma?
trocastes o amor por um contrato frio?
esqueceste da fonte, da estrada, da calma,
do leite ofertado nos dias vazios.
Talvez um dia o mundo te ensine,
que afeto comprado tem prazo a vencer.
E quem vende o tempo por um “me convine...”
não sabe o que é realmente viver.