Francisco Monteiro

O Medo

O medo não é muro nem abismo —
é a língua ancestral que os ossos calam,
sinais gravados em paredes brancas.
Quantos mundos se apagam no \"ainda não\"?
Quantos véus se tecem no tear do silêncio?

O tempo é ceifador de sementes esquecidas,
e os olhos, agora, guardam epitáfios:
AQUI REPOUSA O VOO QUE AS ASAS NEGARAM.

Os corajosos? Alfaiates do impossível —
costuram histórias com fios roubados ao vento.
Os cautelosos? Arquitetam catedrais de talvez,
onde até os anjos perdem a voz.

Mas escuta: o véu entre a névoa e a luz
é tramado com fios de lua e lágrimas secas.
Um passo não é ruptura — é salmo cantado em surdina.
O resto é espelho: Janus, com suas duas faces,
sussurra que o segredo já era seu antes do verbo.

 

Francisco Monteiro