Isis P. Toldi

Súplicas de um cãozinho indesejável

Eu imploro.  
Ajoelho-me diante do nada,  
com a alma em frangalhos,  
com os olhos gastos de tanto esperar.  
Mas por favor…  
fique comigo.  

Não me deixes.  
Não me abandones.  
Eu suplico.

Meus joelhos sangram em silêncio,  
marcando o chão com a dor de quem não é escolhido.  
Por que ninguém fica?  
Por que todos partem quando eu mais preciso?

Não preciso de conserto,  
não preciso de remédio ,  
preciso de alguém  
que me olhe e não desvie o olhar.  

Amei mais vezes do que consigo lembrar.  
Mas fui amada?  
Ah, isso não dá pra esquecer…  
o silêncio responde melhor que qualquer número.  

Me acorrentam como a um cão indesejado.  
E eu me curvo, me diminuo,  
na esperança de um único gesto de afeto.  
Me humilho por um abraço  
que nunca vem.

Queria teus braços como refúgio,  
teu carinho como casa.  
Mas, mais uma vez… não.  
Fico do lado de fora,  
esperando sob a chuva que nunca cessa.

Cansei.  
Cansei de tentar, de implorar,  
de me moldar para caber.  
Cansei de correr atrás  
quando já sei que no fim…  
a coleira sempre me espera.

Me modelam como barro frágil,  
pronto para ser rachado, esmagado.  
Me moldam para agradar,  
para servir,  
nunca para ser.

Sou fantoche de fios invisíveis,  
puxado por mãos frias que não me conhecem.  
Já não sei em quem confiar.  
Não sei o que é real.  
Falo com o vazio,  
palavras belas que ninguém ouve,  
palavras de prata perdidas no ar.

E mesmo assim, eu imploro.  
Imploro por alguém.  
Por presença. Por calor.  
Mas não tem ninguém.  
Nenhuma sombra atrás de mim.  
Só o eco da minha própria voz.

Estou sozinho.  
Neste espaço imenso que chamam de mundo,  
perdido entre pensamentos emaranhados  
e um coração que bate só por teimosia.

Sinto que não posso mais.  
Durmo para escapar da vida,  
vivo apenas para adiar o fim.  
Será que posso escolher?  
Será que posso decidir  
qual pílula tomar,  
qual porta atravessar?

Mas eu já sei.  
A resposta é sempre a mesma.  
A coleira me espera.  
A marionete não decide seus passos.

Sou só mais um boneco no show de lunáticos:  
os palhaços riem da dor,  
as bailarinas dançam sobre cacos,  
os acrobatas fingem equilíbrio.  
E todos nós, vítimas do mesmo algoz,  
o mestre do circo,  
o dono do espetáculo,  
aquele que ri no escuro.

Respiro em pedaços.  
Mas até o ar me escapa.  
Respirar já não é escolha.  
Nada mais é.

Então, pela última vez…  
eu suplico.  
Me mantenha por perto.  
Confie em mim.  
Prometo ser um bom cãozinho.  
Prometo não latir.  
Prometo não querer demais.

Mas se soltar meus laços, eu não volto mais