MOMENTO NO TREM
O menino bonito,
dezoito? vinte?
achou lugar no trem
ao lado da velhinha tímida
quase invisível.
Licença, minha senhora...
Voz baixa, grave, quente,
cheia de ressonâncias.
A senhora acendeu
olhinhos espertos
e pareceu menos velha.
Esboçou um tênue sorriso,
também mais jovem
que o resto.
O erguer da mochila
desvelou o tufo negro da axila
e espalhou um discreto aroma
de suor recente.
Foi impressão, ou de leve
fremiram velhas narinas?
Os jeans apertados
delineavam os músculos fortes
das coxas. O jovem corpo
irradiava um calor bom.
A velhinha tímida
fechou os olhos marotos
para sonhar diabruras
com o neto de outras avós.