Isis P. Told

Sombras

A sombra do melhor
se projeta em mim,
não por sermos iguais,
mas porque estou atrás.

Não importa o quanto corra,
o talento devora o esforço,
e eu desabo,
preso no eterno segundo lugar.

Eu me esforço. Não basta.
Aprendi a viver na penumbra
do brilho alheio.
Atrás do primeiro, um segundo se afoga,
enquanto o terceiro suspira aliviado.

Sempre bom, nunca o bastante.
E a paz?
Ela nunca encontra morada
neste campo minado que é minha mente.

Dois jamais será um.

“Eu podia ter sido melhor.”
“Faltou tão pouco...”
“Era só tentar mais.”

Essas frases me corroem,
viram ecos que martelam,
gritam dentro de mim.

Por que não posso ser o pior,
esquecido, apagado?
Melhor o nada do que a quase-glória,
essa vitória fantasma que sufoca.

Não é culpa minha.

Mas, no fim,
quem acreditaria nisso?