Há súplicas caladas dentro de nós,
clamores que nunca se fizeram voz.
Preces não ditas,
afogadas nos abismos do medo —
o medo de sonhar de novo,
de sangrar
no lugar onde já fomos feridos.
Há vontades
que ardem em silêncio,
tão profundas
que nem ao espelho ousamos confessar.
Arriscar parece loucura.
Entregar-se de novo...
é suicídio da razão.
Mas no íntimo, sabemos
que viver sem isso
é viver pela metade.
Sim, seguros,
mas à margem
do que realmente somos.
E nessa farsa de proteção,
perdemos a cena mais bela:
a vida em sua plenitude.
Esquecemos que a vida é agora.
Que o tempo
é um sopro breve,
e a última dança
já nos espera,
com a morte como par.
Cremos na eternidade.
Mas há coisas
que só florescem aqui,
neste chão,
neste tempo.
Presentes que não cruzam o além.
Será que o caminho seguro
é realmente o melhor?
Ou será que o valor da brevidade
está em se lançar,
em perder-se um pouco
para se encontrar inteiro.