Ocorre-me algo,
um vácuo infindo,
a ausência do nada,
do nunca,
do fim,
do porvir já extinto.
Fará diferença o existir,
se já não se sente o sentir?
Se a dor se cala,
a morte não se torna
mera brisa a consumir?
Penso, por vezes,
que findar é vão.
Pois já morri,
não de carne ou sangue,
mas em secreta dissolução.
Vago qual vulto,
cadáver sem hora,
com alma liberta
há eras,
esquecida e agora.
Tudo me soa inútil,
ou tão intensamente claro
que me cega.
Tudo sentido em excesso,
ou na ausência que me entrega.
Deixai-me, pois,
submergir na penumbra da ausência,
no rio da farsa e da impotência,
onde nós, os quebrados de espírito,
não vivemos… resistimos.
Mas resisto, de fato?
Ou teria, em silêncio,
já desistido há tanto,
que até o tentar me é abstrato?