joaquim cesario de mello

NO OUTRO LADO DA RUA

 

No outro lado da rua

Uma tapa me espera

Um grito me assusta

A pedra atirada machuca

A faca penetra entre as costelas

E um tiro quase que me pega

 

No outro lado da rua

As calçadas são desérticas de anjos

Amores se vendem nas mercearias

Vampiros tocaiam nas esquinas

O céu é mais escuro do que um quarto apagado

E todas as fadas madrinhas já foram enterradas

 

No outro lado da rua

Meu menino é proibido de ir

E se um dia eu for para o lado de lá

Ele vai ficar no lado de cá

Em sua infância de classe média deslumbrada

No interior de um Recife que não existe mais