Metamorfose

Ela e o Medo de Nadar

Tenho medo de nadar.

Do frio que sobe pelas pernas,

do fundo que não vejo,

de não saber voltar.

 

Tenho medo de entrar —

em mim, nela,

no risco de ser vista com outros olhos,

de parecer querer

o que talvez nem sei…

mas sinto.

 

Assusta o afundar.

O mergulho no desconhecido,

o silêncio depois da mensagem,

o eco de um “oi” não respondido

ou respondido demais.

 

Assusta ser notada tentando,

frágil demais para esconder

que talvez eu só queira…

ela.

 

E se ela for só mais uma menina bonita e gentil

que confundi com algo além?

E se eu estiver me afogando

num mar que é só meu?

 

Talvez seja isso:

estou na margem,

presa entre dois abismos —

o das águas

e o das palavras.

 

Mas eu quero, no fundo,

flutuar.

 

Quero coragem para ir além,

para nadar sem medo,

para enviar sem tremer,

para não me perder de mim.

 

E que, aconteça o que for,

ela more em mim

não como peso,

mas como luz.

Como a luz que dança sobre a água

quando o medo começa a passar.