Saudade da pelada na rua que não escandalizava ninguém.
Saudade da dança de roda, não foi ela que inventou a roda também?
Saudade da raspadinha de gelo que não congelava nada, ainda bem.
Saudade do pé-de-moleque sem pontapés, quem não tem?
Saudade dos contos na varanda que não contavam tudo, porém.
Saudade de entregar leite na charrete tenho muito, quantos tem?
Saudade da viola enluarada que não vivia na lua, mas, muito além.
Saudade do paraíso perdido, mas perdido por causa de quem?
Saudade das cachoeiras com seus cachos prateados que só elas fazem.
Saudade dos vaga-lumes, seres estelares
que orbitam matas virgens.
Saudade do sabiá laranjeira no pomar e do desfile da garça sobre rios e pastagens.
Saudade do canto e do cantinho das andorinhas em seu voo vai e vem.