Sigo ansiosa, coração em vigília,
como quem espera o verão depois da última flor.
Te escrevi em madrugadas e silêncios,
em papéis que o tempo quase levou.
Desenhei teu sorriso em cada estrofe,
pintei tua ausência com tinta de saudade.
Cada poema, um passo na direção do invisível —
um sussurro meu, buscando tua verdade.
E agora, num instante bordado de calma,
quando a esperança já parecia dormida,
te encontro.
Como quem reconhece um trecho da própria alma
no meio de outra vida.
Depois de te escrever em tantos poemas,
finalmente te encontrei.
E cada verso perdido faz sentido,
desde que te achei.
Te vi — e era como se o tempo, distraído,
tivesse parado só pra nós duas.
Te ouvi — e tua voz era o eco antigo
das canções que eu inventava depois.
Depois do depois, te tornaste agora,
morada mansa da minha espera.
Não és só sonho, és aurora:
chegaste no fim da quimera.
E eu, que bordava teus traços no vento,
agora desenho com os dedos tua pele.
És poema, presença, alento,
és a calma onde a alma se revele.