Isis P. Told

Autocrítica

Aconteceu de novo.
O ciclo retorna, sereno e cruel,
como maré que não sabe parar no papel.

Tenho vergonha de tentar,
vergonha maior de largar.
Dizem: “Desistir é fraqueza”
mas seguir só espalha os cacos na mesa.

Minha mente ferve,
caldeirão sem freio,
ferindo até sua borda no meio.

Sou sempre opção,
nunca eleita.
Sempre o clique,
nunca a receita.
Sou o artista,
nunca a musa.
Sempre o esforço,
mas nunca o bastante.

É como engolir um porco-espinho,
que cresce e se agita no meu caminho,
rasgando meu peito
de dentro pra fora,
sem jeito.

“Cale a boca, consciência.”
Mas cedo ou tarde me rendo,
aos sussurros frios que vem me vencendo.

Sei demais da dor contida,
de olhos cheios,
mas lágrimas retraídas.

Entro em guerra comigo,
e caio.

A fome se vai,
os fios também.
E a gente sabe bem o que isso contém.