Sezar Kosta

AUSÊNCIA INFINITA

Havia luar nas tuas mãos,

havia verão nos teus olhos,

havia promessas em cada esquina do tempo—

a memória é um rio,

onde mergulho para buscar tua voz,

onde a água é perfume,

e tua risada, o rumor de folhas ao vento.

Ainda pulsa em mim, mesmo longe, teu nome.

 

Os dias eram pássaros pousados nos fios do agora,

teu corpo era abrigo,

meu peito, um jardim recém-desperto.

O mundo tinha cor de sol nas manhãs,

tua presença era pão quente,

era lençol limpo,

era o silêncio preenchido de sentido.

Ainda pulsa em mim, mesmo longe, teu nome.

 

Agora, o tempo é uma casa vazia,

as paredes ecoam tua ausência,

e a distância é um animal faminto

que rói meus pensamentos.

O cheiro do café,

o frio do quarto às três da manhã,

tudo me fala de ti—

as tuas mãos,

ausentes,

ainda esquentam as lembranças.

Ainda pulsa em mim, mesmo longe, teu nome.

 

Repito tua ausência como um mantra,

bebo tua falta em cada copo d’água,

e o travesseiro, cúmplice do meu pranto,

guarda a forma do teu rosto impossível.

A noite é uma carta não enviada,

um poema sem destinatário,

mas escrevo, ainda,

na esperança de que o vento te leve

meu sussurro.

Ainda pulsa em mim, mesmo longe, teu nome.

 

O amanhã é um campo nublado,

não sei se haverá reencontro,

se o destino, cansado de brincar,

devolverá teus passos ao meu caminho.

Mas carrego uma semente de sol no bolso,

um fio de esperança costurado ao peito—

talvez um dia,

em outra estação,

nossos olhares se cruzem

como dois rios que se reconhecem.

 

E mesmo que o tempo insista

em apagar teus traços,

haverá sempre um lugar

no fundo do peito,

onde tua presença arde,

onde tua ausência floresce.

Ainda pulsa em mim, mesmo longe, teu nome.