Bem-vindo ao campo de batalha,
onde os gladiadores vestem camisas sociais,
armados de canetas sem tinta
e sorrisos protocolares.
Aqui não há leões, só reuniões
que devoram horas e almas,
PowerPoints que prometem o futuro
mas entregam só insônia.
\"Seja proativo\", diz o e-mail motivacional,
enquanto o chefe coleciona prazos
como troféus de guerra perdida.
\"Pensar fora da caixa\" é o mantra,
mas a caixa é o cubículo
e você está preso dentro dela,
com direito a um calendário de mesa
e um post-it amassado que diz: \"Respire.\"
A máquina de café é a fonte da vida,
um oráculo que nunca mente:
o expresso é amargo como a última reunião,
o cappuccino doce demais para ser verdade.
E o café com leite?
Esse, meu caro, é o meio-termo
onde todos fingem estar felizes.
Há batalhas sutis no open space:
o ar-condicionado polar que congela sonhos,
a disputa silenciosa pela última fatia de bolo
na festa de aniversário do colega que ninguém conhece.
E a guerra de e-mails?
Ah, essa é épica:
\"Conforme discutido anteriormente\"
é a espada mais afiada,
\"Em anexo, segue novamente\"
é o escudo que protege a dignidade.
Mas o ápice do teatro corporativo
é o discurso do \"time\":
\"Somos uma família\", proclamam,
enquanto terceirizam os primos.
\"Juntos somos mais fortes\", dizem,
mas no happy hour ninguém te chama
e o brinde é só para os cargos de cima.
E ainda assim, resistimos.
Porque há beleza nas pequenas revoltas:
o \"não lido\" no e-mail do chefe,
o cochilo estratégico na call sem câmera,
o riso abafado ao perceber que a vida
é só um grande brainstorming mal planejado.
E no fim do expediente,
quando o sol se põe lá fora
e você encara o reflexo na tela desligada,
vem a pergunta inevitável:
\"Isso é tudo o que sou?\"
Mas então, num lampejo irônico,
lembra que, como aquele clipe esquecido na gaveta,
você também é flexível.
E, quem sabe,
um dia vai voar.