Manifesto dos Meus Eus (versão poética)
No divã com meus Eus.
Deixo a última bolacha no pacote,
como quem deixa espaço para um gesto,
como quem acredita sem querer acreditar.
Não sou feita de superstições,
mas crio as minhas,
rabisco sinais no ar,
procuro meu nome escrito nas paredes do acaso
Ellie,
uma palavra piscando, sussurrando:
\"Você é importante.\"
Sei o que é viés, sei o que é dado científico,
mas às vezes escolho, com ternura,
ser só esperança.
Ser só o olhar que pesca milagres em poças d\'água.
Há alguém, ainda que longe,
há tempo que corre, ainda que parado,
há horas iguais, chamando-me para não esquecer:
Você está aqui.
E à criança que um dia fui, eu escrevo:
O mundo é áspero, pequena,
mas também sabe ser brisa.
A demora fere, sim,
mas o encontro sara.
Não existe atraso
existe o florescer no tempo certo.
Palavras soltas, às vezes,
mas no meio delas, brilham pérolas.
Pegue-as.
Guarde-as no peito.
Mas mais difícil que abraçar o passado,
é sussurrar ao futuro que ainda não conheço.
A ti, desconhecida que ainda sou, eu digo:
Olá, eu do futuro.
Que você seja mais bonita,
na alma e no sorriso.
Que não tema ser inteira,
que não se encolha para caber em espaços apertados.
Que o que hoje parece inalcançável,
seja chão sob seus pés.
Que o mundo, mesmo escuro,
encontre em você um lampejo.
Não volte para a caixa.
Você já está rasgando as amarras agora.
Que, amanhã, nem sombra dela reste.
Este manifesto é minha sala silenciosa,
meu divã escondido,
meu abraço para todas as versões de mim mesma.
Está tudo bem sonhar.
Está tudo bem esperar.
Está tudo bem ser.