Te invento em tardes lentas, distraídas,
nos intervalos entre o céu e um verso,
no silêncio que mora entre as linhas
e no calor de um sol que já não peço.
Não sei teu nome, nem teu rosto exato,
mas te sonho como quem já te viveu.
És o perfume breve de um retrato
que o tempo guarda — e nunca se perdeu.
Falo contigo no meu pensamento,
escrevo cartas pra um destino incerto.
E deixo espaço ao lado do momento
pra quando, enfim, me fores perto.
Te espero sem pressa, nem promessa,
como quem sente — e não questiona —
que há amores que nascem na ausência
e florescem mesmo sem pessoa.