Ela senta no caixa, postura erguida,
mesmo quando o mundo esquece sua vida.
Entre pacotes, códigos e cartão,
carrega nos ombros mais do que dão.
Rosto sereno, gesto preciso,
domina o caos com pouco aviso.
Recebe o troco, a reclamação,
e ainda oferece um \"bom dia\", em vão.
Enquanto a fila anda sem olhar,
ela aprende a se calar.
Engole o cansaço, disfarça a dor,
como quem nasce pra dar mais amor.
Nenhum aplauso, nenhum refrão,
só o zumbido da obrigação.
Mas no silêncio da função tão mecânica,
ela ainda sonha, resiste, é orgânica.
Se o mundo a vê como parte da máquina,
sem cor, sem nome, presença estática,
lembre-se: por trás daquela rotina,
vive uma mulher, inteira, e genuína.