TainĂ¡ Lopes

Produto, pessoa, pressa.

Ela senta no caixa, postura erguida,

mesmo quando o mundo esquece sua vida.

Entre pacotes, códigos e cartão,

carrega nos ombros mais do que dão.

 

Rosto sereno, gesto preciso,

domina o caos com pouco aviso.

Recebe o troco, a reclamação,

e ainda oferece um \"bom dia\", em vão.

 

Enquanto a fila anda sem olhar,

ela aprende a se calar.

Engole o cansaço, disfarça a dor,

como quem nasce pra dar mais amor.

 

Nenhum aplauso, nenhum refrão,

só o zumbido da obrigação.

Mas no silêncio da função tão mecânica,

ela ainda sonha, resiste, é orgânica.

 

Se o mundo a vê como parte da máquina,

sem cor, sem nome, presença estática,

lembre-se: por trás daquela rotina,

vive uma mulher, inteira, e genuína.