Sezar Kosta

A TERNURA DAS PEQUENAS COISAS

Existem coisas que a vida nunca ensina, 

mas que nascem no compasso do coração. 

Como segurar a porta para quem vem atrás, 

ou devolver o sorriso, 

feito um raio de sol, 

pra quem te entrega o troco na padaria. 

 

Ternura não precisa de ensaio, 

não veste traje de gala. 

Ela é o avô que finge perder no dominó, 

é o amigo que escreve sem porquê, 

só pra saber se o mundo ainda cabe em você. 

 

A gente fala tanto de amor, de paixão, 

mas esquece que o amor é miúdo, 

é o vizinho regando o corredor vazio, 

a senhora que bate à porta com um pedaço de bolo, 

porque sobrou — e dividir é tão doce quanto açúcar. 

 

Há um universo inteiro 

nos gestos que não ecoam alto. 

Talvez a vida seja só isso: 

um mosaico de mãos estendidas, 

de olhares que aquecem, 

de palavras que dançam baixinho 

na melodia de quem ainda se importa. 

 

E, quem sabe, o mundo seja menos chato 

quando entendermos que a ternura 

é um poema que não precisa ser escrito. 

Ela vive. 

Na simplicidade das pequenas coisas.