TainĂ¡ Lopes

Ritual de ser.

Enquanto a água toca a pele,

num fio quente e devagar,

teu nome em mim ainda expele

o gosto doce de lembrar.

 

O vapor sobe, leve e manso,

a espuma dança em espiral,

te vejo ali, num breve alcance,

feito memória sem final.

 

Lavo os ombros — vem teu gesto,

passa invisível, tão sutil.

No rosto, o toque manifesto

de um riso teu, calmo e febril.

 

O sabonete escorre lento,

com tuas frases a me cobrir.

Cada gota é um pensamento

que insiste em não fugir.

 

Não é saudade em dor tamanha,

mas algo terno, que não se vai.

Como o calor que a água banha

e fica na pele depois que cai.

 

E quando o banho, enfim, se finda,

não sou mais o que era antes.

Sou tua — e isso ainda brilha,

sou tua nos últimos instantes.