Enquanto a água toca a pele,
num fio quente e devagar,
teu nome em mim ainda expele
o gosto doce de lembrar.
O vapor sobe, leve e manso,
a espuma dança em espiral,
te vejo ali, num breve alcance,
feito memória sem final.
Lavo os ombros — vem teu gesto,
passa invisível, tão sutil.
No rosto, o toque manifesto
de um riso teu, calmo e febril.
O sabonete escorre lento,
com tuas frases a me cobrir.
Cada gota é um pensamento
que insiste em não fugir.
Não é saudade em dor tamanha,
mas algo terno, que não se vai.
Como o calor que a água banha
e fica na pele depois que cai.
E quando o banho, enfim, se finda,
não sou mais o que era antes.
Sou tua — e isso ainda brilha,
sou tua nos últimos instantes.