Charles Araújo

VALSA DOS AMORES 

VALSA DOS AMORES 

 

(Primeira dança - ele)  

 

Revirei o passado, relembrei seus beijos,  

A ternura de seus abraços,  

Aquelas ruas quietas, onde nossos passos  

Se perdiam na madrugada sem fim.  

 

Lembrei das serestas sob a lua clara,  

Do doce encanto em seu olhar,  

E os carinhos, as promessas,  

As juras de que nunca ia te deixar.  

 

E as lembranças tão doces, quase loucas,  

Me fizeram perceber que amei,  

Amei sem medidas, sem segundas intenções,  

Mas apenas por querer 

por esse impulso insano de amar.  

 

O tempo passou. Você se foi.  

Ficou a solidão 

fria, cortante 

E nas noites de lua, ainda escuto  

Os acordes solitários do meu violão.  

 

Mas guardo no peito, mesmo com desalento,  

As recordações de um amor que talvez  

Não fosse mais que paixão,  

Mas que, em sua intensidade, me fez reviver...

 

 

(Segunda dança - ela)

 

Nas lembranças, toquei teus gestos,  

Teu riso leve, tua voz cansada,  

Aquele banco antigo, onde as madrugadas  

Nos encontravam sem pressa de ir.  

 

Lembrei dos sonhos ditos ao acaso,  

Do teu silêncio depois das promessas,  

Dos bilhetes, dos suspiros,  

E da ilusão de que amor não se desfaz.  

 

As memórias, tão doces quanto incertas,  

Me fizeram sorrir — mas também doeu.  

Amei, sim... mas com medo,  

Com essa alma que hesita, mesmo ao querer.  

 

Nosso tempo seguiu por rumos diferentes,  

Mas ainda escuto, vez ou outra,  

Na solidão dos dias lentos,  

A melancolia da tua canção.  

 

E mesmo sem saber se foi verdade  

Ou só paixão em corpos que se ardia,  

Guardei em mim o que não disse:  

Que amei também 

mas fui embora calada.  

Porque em mim... também doía.