A noite cai como um véu cúmplice,
silenciosa cúmplice de um coração dividido.
De um lado, a casa onde a lareira sempre acende,
onde o perfume da certeza mora,
onde o riso é conhecido,
e o amor… tem nome, história, aliança.
Do outro, o sussurro de um vento novo,
que sopra sem prometer abrigo,
mas acende incêndios na pele e no peito.
É um jardim que floresce no escuro,
sem garantia de amanhã,
mas com o néctar mais doce do talvez.
E eu… sou o viajante na estrada de duas luas,
pisando firme no chão seguro,
mas lançando olhares ao cometa que risca o céu.
Há beleza no conhecido, há desejo no imprevisto.
E há medo — sempre há medo —
de perder o que se tem
ou de nunca tocar o que se quer.
Sigo assim,
um lobo entre duas matas,
farejando a trilha com cautela,
sabendo que em qualquer passo,
algo se deixa para trás.
E no fim, temo que a floresta me devore,
e que nem a casa, nem a chama,
nem o perfume do novo
fiquem para me encontrar.
Mas ainda assim, respiro essa noite,
vivo esse instante.
Porque amar demais, às vezes,
é só mais uma forma de solidão bonita.
Por Freddie Seixas.