Freddie Seixas

Noite de Dois Mundos

 

A noite cai como um véu cúmplice,

silenciosa cúmplice de um coração dividido.

De um lado, a casa onde a lareira sempre acende,

onde o perfume da certeza mora,

onde o riso é conhecido,

e o amor… tem nome, história, aliança.

 

Do outro, o sussurro de um vento novo,

que sopra sem prometer abrigo,

mas acende incêndios na pele e no peito.

É um jardim que floresce no escuro,

sem garantia de amanhã,

mas com o néctar mais doce do talvez.

 

E eu… sou o viajante na estrada de duas luas,

pisando firme no chão seguro,

mas lançando olhares ao cometa que risca o céu.

Há beleza no conhecido, há desejo no imprevisto.

E há medo — sempre há medo —

de perder o que se tem

ou de nunca tocar o que se quer.

 

Sigo assim,

um lobo entre duas matas,

farejando a trilha com cautela,

sabendo que em qualquer passo,

algo se deixa para trás.

E no fim, temo que a floresta me devore,

e que nem a casa, nem a chama,

nem o perfume do novo

fiquem para me encontrar.

 

Mas ainda assim, respiro essa noite,

vivo esse instante.

Porque amar demais, às vezes,

é só mais uma forma de solidão bonita.

 

Por Freddie Seixas.