Todos os dias ela me mostrava algo novo. Aprendia coisas diferentes. Do velho livro de receitas guardado dentro da gaveta, começou com tortas. Tortas de todos os sabores. Tortas de limão, tortas de morango, tortas de chocolate...depois fora para os bolos, bolos de todos os formatos, pequenos e grandes, geométricos, alguns deram errado. Então, as sobremesas geladas, os doces açucarados demais, os salgados salgados de menos. Até que enjoou. E então, aprendeu a desenhar. Desenhava no papel, até aprender a pintar. Desenhava e pintava por todas as folhas em branco, preenchia o espaço vazio dos cadernos jogados. Foi aí que lhe dei quadros. E haviam quadros. Quadros e mais quadros por toda a casa, pinturas com sua assinatura rabiscada, pinturas e pinturas...ela então começou a explorar o jardim, o jardim minúsculo que crescia logo ali. Mas ela detestaria as flores, as flores, por que as flores? Porque as flores murcham. Ela diria. E dizia sempre que as via. Perguntando e afirmando para si, ela odiava as flores. As rosas, especialmente. Rosas com espinhos. Espinhos manchados de sangue. De tinta. Ela odiava as flores. E eu as entregava flores. Porque gostava do sentimento de ódio que a corrompia, acabava com a paz que ela nutria. Ela odiava as flores. Odiava porque era eu quem as dava. Odiava por minha culpa. Me odiava. Bonitas flores...ela dizia e depois as jogava. Regava e guardava. Murchavam e ela não chorava. Os quadros agora tinham flores desenhadas. Flores mortas e mortas estavam as flores. Por que as flores? Porque elas murcham e morrem. Ela odiava as flores