Recentemente, virei coveiro
Não de ocupação, pois não ganho nada
E sim por omissão
O que faço mais é enterrar mesmo
Contudo, esses tempos, desenterrei de algumas covas
Coisas que gostaria de nunca ter enterrado
Não porque sinto saudades, não!
Mas porque queria que nem pudesse eu enterrá-las
Pois nesse mundo elas nunca existiriam
A terra em minhas mãos é, porém
Prova de que o meu querer é inútil
Alguns dos cadáveres são meus, confesso
Outros não, só fui cúmplice
Alguns em especial eu tenho nojo
Me ferve o sangue
Me faz incrédulo
Me faz adverso
Entretanto, tudo que tenho agora é a maldita pá
E lá vai mais terra!