Sezar Kosta

O ESPELHO DO INQUILINO AMOR

Veio sem anunciar,

sem batida à porta,

sem bilhete sob o tapete.

Era só um silêncio novo —

um sussurro nos cantos

do assoalho da alma.

 

E eu, distraído de mim,

não percebi:

ele já morava ali.

 

O amor chegou

com os bolsos vazios,

como quem não quer nada.

E, na verdade, não queria.

Queria apenas ser.

 

E ser…

era tudo.

Era o vazio, enfim, preenchido —

não com festa,

nem com promessas,

mas com o peso leve

do que não se precisa dizer.

 

Esse inquilino estranho

trouxe-me um espelho.

E, ao me ver nele,

encontrei o que me faltava —

ou talvez,

o que nunca ousei procurar.