Um shot de café, e a alma desperta —
mas não inteira, só o que resta.
O corpo veste a farda invisível
dos que seguem firmes, mesmo implausíveis.
Olhos vermelhos, mas não de sono:
de esperança teimosa e abandono.
Trabalhadores da rotina crua,
que trocam sonhos por mais uma rua.
Durante o dia, o café é refúgio,
calmaria quente, vício e subterfúgio.
É abraço breve entre tarefas mil,
é silêncio amargo num mundo hostil.
Mas à noite...
À noite, trocam a xícara pelo copo.
O amargo continua, só muda o rótulo.
Bebem não pra esquecer, mas pra suportar
o peso de um dia que insiste em ficar.
Café e álcool: extremos que se tocam.
Um pra acordar, outro pra apagar.
E no meio, a vida — essa corda bamba
entre o cansaço que chega e o que nunca se vai.
Trabalhadores da cidade cinza,
carregam no peito uma brisa extinta.
E seguem, brindando ao que não tem cura,
com um shot de café...
ou um gole de amargura.