Sezar Kosta

O AMOR CHEGOU COM AS MÃOS VAZIAS

Era dia de feira e chão batido,

de riso largo, panela no fogo,

e o tempo correndo devagar,

feito criança brincando na poeira.

 

Você chegou como quem retorna

de um lugar onde a alma se despede —

com olhos cheios de ontem

e um silêncio que sabia meu nome.

 

Senti, como se sente o cheiro da chuva

antes do primeiro trovão,

que algo nascia ali,

sem promessa, sem barulho.

 

Não foi milagre, nem reza de esquina,

mas coisa miúda,

dessas que Deus esconde nas beiradas do dia

e só revela quando a gente para de procurar o que brilha.

 

Desde então, meu amor é pão

saindo do forno:

quente,

simples,

imprescindível.

 

Você é meu destino,

mas chegou com as mãos vazias,

pedindo açúcar

e deixando tudo mais doce.