Melancolia...

No SilĂȘncio do Colo que Partiu.

 

o mundo perdeu o som da tua voz.
e eu, perdi o chão.

as paredes da casa parecem maiores
desde que o teu perfume não mora mais nelas.

o café esfria mais rápido.
as horas não têm destino.
as roupas seguem limpas,
mas ninguém mais se importa com a dobra perfeita.

tu foste, mãe,
sem prometer volta —
e, no entanto, eu espero.
espero teu riso atravessando a porta,
e tua voz: “filho, come” que curava até febre.
espero tua bronca disfarçada de afeto.

teu nome agora mora em velas.
mas tua ausência grita em mim.

é estranho:
o mundo não parou.
o sol nasceu como se nada tivesse acontecido.
as pessoas sorriem como se não faltasse tua presença,
vários corações frios que já conheci.

mas aqui dentro, minha madre,
há um sepulcro de silêncio.
e nele, guardei tua última palavra a mim,
teu último olhar…
e a esperança tola e persistente
de te reencontrar num sonho qualquer.

se houver céu,
que ele te abrace como eu não pude no fim do dia.
se houver paz,
que ela te envolva como teu colo fez comigo por tantos anos.

obrigado por tudo.
e me perdoa —
por tudo que não consegui dizer, antes do adeus, 

antes do último abraço que não consegui sentir.

10 abr 2025 (10:46)