Conheci meu menino na infância
Aquele corpo franzino
seu jeito dissimulado
de parecer bem-educado
os cabelos bem penteados
que por baixo escondiam
o gestar dos futuros pecados
e os olhos verdes claros
como claras são as alvoradas
ainda não usavam óculos
nem conheciam cemitérios
como o de Santo Amaro
que ficava por detrás do muro
que dava para a frente da casa
onde todos com ele moravam
De repente
o corpo cevou
o jeito mudou
os cabelos rarearam
deixando à mostra os pecados
os olhos anoiteceram
não havia mais muro
separando a casa
que de chofre vazia ficou
Não me dei conta dessa passagem
tão certa
tão previsível
tão definitiva
como toda a infância
que um dia
pra sempre
um dia se vai