Sezar Kosta

A VOZ DO VAZIO AO ESCREVER

Escrever é o gesto de dar corpo ao invisível,

de colher o vento que dança nas frestas da alma,

antes que ele se perca no abraço do ar.

Como uma tela sem tinta,

onde o som se faz sombra,

e a palavra, frágil, se transforma em luz.

 

Na madrugada serena,

quando o universo sussurra seus segredos,

escrevemos sobre o que não se vê,

mas se sente — como um perfume fugaz

que se esconde nas dobras do tempo.

Cada palavra é um abraço ao vazio,

tentando tornar eterno o efêmero,

num breve instante.

 

Quem escreve não sabe a quem fala.

O papel é altar silencioso,

onde depositamos a voz

para que ela se dissolva no vento

e alcance algum lugar distante,

onde, talvez, alguém, com olhos atentos,

descubra o que o silêncio tentou esconder.

 

Nos pequenos gestos do cotidiano,

nas coisas que o olhar não alcança,

a poesia se revela.

Como o brilho suave de um farol perdido,

na curva solitária da estrada,

ou o eco de uma palavra sussurrada

que se dissolve na paisagem da vida.

 

E, quando o último suspiro da escrita se apaga,

não restam explicações,

apenas o ressoar do que não sabemos,

mas que, ao ser dito,

tocou o fundo do ser.

E é nessa entrega, no gesto de deixar partir,

que o silêncio finalmente encontra sua voz.

 

No fim, quem escreve não busca compreensão.

Busca, talvez, deixar que a saudade se faça,

que o vento traga consigo a lembrança

de algo que não se pode tocar,

mas que, de algum modo, se sente —

como o perfume de um sonho

que se esvai ao amanhecer.