A garganta seca, áspera como lixa, carrega o gosto amargo das cinzas. Escrevo porque a voz virou um eco distante, engolida pelo tempo, esmagada pelo silêncio. A garganta seca, áspera como lixa, carrega o gosto amargo das cinzas de um incêndio que me consumiu por dentro, diminuindo a alma a carvão e poeira.
O perdão é para os outros, para os que tropeçam na borda sem enxergar o abismo. Mas eu vi. Eu vi e caminhei até ele com passos firmes, ouvindo o vento assobiar promessas vazias. A carne esquece o arrepio, os psicológicos marcam um tempo morto, um relógio sem ponteiros preso a um instante sem nome.
A escuridão não me assusta mais. Ela se aconchega em mim, como um velho amigo, uma sugestão no fundo da mente que nunca se cala. Mentiras de quem nunca soube o que é se perder. Algumas portas, quando fecham, não voltam a abrir. Algumas estradas não levam a lugar algum, a não ser ao vazio onde os passos não deixam marcas.
Se há alguém que ainda ouve, se há alguém que se importa, saiba que a escuridão não me veio buscar. Eu a abracei primeiro. E, em seus braços frios, talvez, enfim, eu descanse.