Na casa, o amor é um móvel antigo,
daqueles que rangem, mas não quebram,
que suportam o peso dos dias,
e escondem bilhetes no fundo das gavetas.
Na segunda-feira, o abraço amassa o cansaço.
Há um pão sobre a mesa
e o relógio nos separa—
mas algo nos junta, invisível,
como um fio que o tempo não corta.
Na quarta, as meias sujas no chão
são metáforas toscas,
mas também um poema:
\"Estou aqui, sou humano, erro,
e você me aceita.\"
Na sexta, o café tem gosto de promessa.
Há risos que escapam da xícara,
e o silêncio é tão cúmplice quanto as palavras.
O amor, esse operário discreto,
ergue a ponte entre duas solidões
e ri das pedras no caminho.
O amor cotidiano não grita,
não explode.
Ele apenas respira,
e isso já basta.