Sezar Kosta

O AMOR COTIDIANO

Na casa, o amor é um móvel antigo,

daqueles que rangem, mas não quebram,

que suportam o peso dos dias,

e escondem bilhetes no fundo das gavetas.

 

Na segunda-feira, o abraço amassa o cansaço.

Há um pão sobre a mesa

e o relógio nos separa—

mas algo nos junta, invisível,

como um fio que o tempo não corta.

 

Na quarta, as meias sujas no chão

são metáforas toscas,

mas também um poema:

\"Estou aqui, sou humano, erro,

e você me aceita.\"

 

Na sexta, o café tem gosto de promessa.

Há risos que escapam da xícara,

e o silêncio é tão cúmplice quanto as palavras.

O amor, esse operário discreto,

ergue a ponte entre duas solidões

e ri das pedras no caminho.

 

O amor cotidiano não grita,

não explode.

Ele apenas respira,

e isso já basta.