Andre Matheus

Estalagmites

A dor me diminui,

torna-me um nada obsoluto.

Porém, Narciso, todos se importam,

quando, na verdade, nem tanto.

Nem nada.

 

Minhas idas se tornam dolorosas:

dou importância ao nada

e esqueço-me do tudo.

Meu eu se torna o alheio,

e, aos meus olhos,

minha dor é exposta.

 

Timidez, meu véu e minha cela,

me esconde do mundo

e do meu próprio reflexo.

Narciso ri,

enquanto eu me afogo

no lago que não devolve

a imagem que eu queria ver.

 

Suas palavras gotejam,

formam estalagmites

no eterno do meu ser.

Cada sílaba, um peso;

cada olhar, uma sombra.

E eu, aqui,

entre o espelho e o abismo,

perco-me no silêncio

do que nunca pude ser.