A brisa entoa um canto ausente,
a noite veste um véu silente.
O tempo escorre em rios vazios,
sombras dançam em ventos tardios.
O pensamento, errante e vão,
perde-se em laços de ilusão.
O peito aperta, a alma sente,
um mundo cego, um olhar ausente.
Se o verbo ao menos se desvelasse,
se a dúvida enfim se dissipasse...
Mas eis que escrevo, risco o agora,
traçando ecos do que foi outrora.
Nas cordas trêmulas do não saber,
compasso o tempo, refaço o ser.
E em notas soltas, fluídas, sem cais,
sou tudo e nada, nunca e mais.
Francisco Monteiro