Sergio Persi

Olhos do governo

Nas vielas de barro e sonhos quebrados,  
A esperança se esconde em olhares cansados,  
Vive a população, entre risos e lamentos,  
Na favela pulsante, onde o tempo não é lento.  

Votam por necessidade, vendem seu valor,  
Com promessas vazias que não trazem amor.  
Um prato na mesa, um sonho a pagar,  
Mas no fundo do peito, um grito a ecoar.  

Os olhos do governo, sempre distantes,  
Ignoram os passos dos seres errantes.  
Direitos que dançam em sombras de papel,  
Um futuro incerto sob o céu de um pincel.  

Na esquina da vida, a dignidade se esvai,  
Enquanto se afunda no lodo da lei que não vai.  
É um ciclo sem fim, um labirinto cruel,  
Onde vender o voto é só mais um troféu.  

Mas mesmo na dor, há força a brotar,  
Nos corações valentes que insistem em amar.  
Que um dia as vozes sejam ouvidas de verdade,  
E a favela floresça na plena liberdade.