Sezar Kosta

JARDIM DA AUSÊNCIA

A saudade é um eco sutil,

um sussurro que atravessa o tempo,

como folhas dançando ao vento,

repousando no solo do coração.

 

Ela chega sem aviso,

uma brisa que traz o perfume esquecido

das flores de um ontem distante.

 

É semente plantada na ausência,

germinada por mãos invisíveis do passado.

Suas raízes se entrelaçam

nas camadas mais fundas da alma,

onde a dor e o amor convivem,

como troncos retorcidos

de uma velha árvore que resiste ao tempo.

 

No início, ela pesa.

Um céu nublado que ameaça chover,

um espinho que perfura invisível,

uma pedra que repousa no peito.

 

Mas, aos poucos, sua força brota.

A lembrança aquece como o sol da manhã,

um sorriso perdido renasce em luz,

e o vazio se transforma em um jardim.

Ali, a saudade floresce silenciosa,

como uma borboleta que pousa

e colore o que parecia cinza.

 

Saudade não é ausência pura.

É presença moldada pela distância,

é a sombra de um abraço eterno,

o reflexo de quem fomos

e a promessa do que seremos.

 

Ela nos ensina a cuidar da terra fértil

de nossas emoções,

a acolher a dor e a ternura

como irmãs que dividem a mesma raiz.

 

No fim, ela nos convida a abrir janelas,

deixar o vento renovar o ar,

e perceber que o jardim do coração

nunca está vazio.

 

Na escuridão, há sementes dormindo,

esperando o amanhecer:

um ciclo eterno,

onde a vida refaz seu caminho

entre sombras e luz.