Antonio Luiz

Passam e o que fica também passa, mas fica

há um saber nas nuvens que não se alcança

em seus bichos extintos e mapas sem rota

e se eu intento estudá-las, desmancham-se

mas seguem pairando em minha lembrança

 

algumas pesam como o lombo do boi cevado

outras são plumas dos pássaros sem pressa

há a que me traz os novelos no colo de vovó

e as que por tímida razão chovem adiantado

 

vejo nelas o rabisco gris do tempo indeciso

entre tons que já foram e outros desejados

flutuam, flanam, sem passado ou presságios

tal velhice dum retrato ou algo não preciso

 

se num dia triste, fizerem-se de ausências

oxalá deixem, nos céus, ao menos um traço

um rastro fino de sombra no chão absorto

ou três pequenos pontos, feito reticências

 

-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 13/03/25 –