na areia da ampulheta eu desenho deitado
meu rosto como o levo à cama da memória
mas acordo toda manhã um pouco apagado
tal um espelho que não reflete lembranças
saio cantando algo que nem mais se escuta
ensaiando o passo que ninguém mais dança
vigor de folha seca que vento não sustenta
café em copo americano e a bala de menta
o limo encobre segundos em verde silêncio
nas pregas dum relógio enraizado na cerca
com duas lâminas aguçadas e sem ponteiros
e em fiapos de então o tempo me desfibra
mas quando a tarde assenta o colo da noite
e nos galhos do luar os minutos se aninham
decanto minhas horas na varanda do eterno
e juro que ainda sou aquele instante inteiro
(então eu me desenho novo de novo na areia)
-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 11/03/25 --